mar-2014
Meninos caçadores (Parte III)
Caçar é coisa de menino grande? Neto tem 2 anos, penúltimo filho de nove irmãos, menino atento e de esperteza voraz. Acompanhando as gravações que fazíamos com suas irmãs mais velhas, lá veio ele me puxando pela roupa e me convidando a olhar em volta. Mais preocupada com a cena das meninas pedi que esperasse um pouco. Esperar? Os siris estavam ali chamando os seus dedos, e dedo não espera, faz. Tá certo, mudei a estratégia e arrumei uma garrafinha para que coletasse a maior quantidade de siris enquanto terminávamos de brincar com as meninas, assim seus dedos estariam focados no seu próprio desejo.
Impulsionado pelo olhar astuto e mergulhado na coragem e missão clara que a caça exige ao caçador, Neto acompanhava os siris indo e vindo das tocas. Os desafios guiavam seus dedos para aprimorar o gesto, criar estratégias de se esquivar das garras do animal e se impor como caçador. Um corpo inteiro mobilizado para se apropriar de inúmeros saberes advindos da experiência.
O tamanho de sua vibração com essa “brincadeira” de caçador, contagiou a todos e a cena mudou de foco. Suas irmãs estavam agora mais interessadas em ajudá-lo nessa tarefa do que brincar daquilo que fazíamos inicialmente. Ótimo, afinal, estamos ou não estamos abertos a espontaneidades infantis? E o tempo ganhou qualidade de tempo, de tempo desfrutado, até a hora que o sol desistiu de brincar conosco.
Texto e fotos: Renata Meirelles
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