mar-2014
Meninos caçadores (Parte IV)
A casa era longe, de difícil acesso, inúmeras porteiras para serem abertas e um bocado de bifurcações para adivinhar qual pegar. Não fosse ter ido um dia antes não teríamos chegado.
Não avisamos que iríamos, chegamos de surpresa, precisávamos pegar autorização de imagem e convidá-los para assistir filmes no próximo dia.
Visita inesperada, todos ocupados com fazeres domésticos: lavando roupa, abrindo vagens de feijão, varrendo em volta da casa.
Alex, um menino de 7 anos, estava com a cabeça quase enfiada dentro da terra no canteiro de frente da casa. Foi o suficiente para chamar nossa atenção. O que será que fazia ele ali daquele jeito?
Menino quando está mergulhado em alguma atividade de quintal certamente é algo interessante para nós. E era mesmo.
Lá estava ele caçando um certo tipo de aranha, a “boca de fogo”. Essa aranha faz sua toca dentro da terra e cobre a portinha com uma espécie de tampinha feita de seda. Essa tampinha some quando misturada com a terra, e para achá-la é preciso mesmo estar com a cabeça enfiada no chão.
A caça pede silêncio, atenção, movimentos precisos. Alex, e logo em seguida sua irmã Franciele e seu irmão Alessandro, se vestem de persistência e precisão para conseguir puxar as aranhas de dentro da toca.
Um pedacinho de mato é enfiado dentro do buraco e ficam aguardando que a aranha dê uma mordida. Quase uma pescaria. Daí eles puxam o matinho e a aranha é desvelada de dentro da toca.
Cada aranha conquistada é um prazer de vitória.
De caça a brincadeira se transforma em disputa entre aranhas. Colocam duas, três ou até quatro aranhas lado a lado e aguardam que elas briguem entre si.
Uma visita rápida que se transformou em uma longa caçada. Um presente para quem está aberto a olhar os gestos mais genuínos da infância.
Texto e fotos: Renata Meirelles
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