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28
maio-2015
A matéria pode ser lida no site Papo de Cinema ou a seguir:

Crítica

O projeto Território do Brincar nasceu em 2012, através de uma iniciativa dos documentaristas Renata Meirelles e David Reeks. A intenção foi realizar um trabalho de escuta, intercâmbio de saberes, registro e difusão da cultura infantil. Acompanhados pelos filhos, por mais de um ano – de abril de 2012 a dezembro de 2013 – eles percorreram oito estados brasileiros do norte ao sul do país visitando comunidades rurais, quilombolas, grandes metrópoles, sertão e litoral. Com isso, conseguiram identificar um uma realidade distante da mídia mais convencional, aquela que é percebida através dos olhos das crianças, com sutilezas e espontaneidades viabilizadas pelo ato de brincar.

Os lugares visitados foram diversos. Da cidade de Jaguarão, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, passando pela Costa da Lagoa, em Santa Catarina, ao Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Seguiu-se pelos Pomeranos do Espírito Santo ao Recôncavo Baiano, seguindo pela Praia de Tatajuba, no Ceará, e pela terra indígena Panará, no Pará, e também pelo Maranhão. São extremos de uma nação com dimensões continentais. No entanto, independente do lugar, da condição social, dos cenários ou das origens, o ânimo e o envolvimento dos pequenos com atividades lúdicas é sempre igual: entrega absoluta. Mas não se fala aqui de videogames, tablets ou controles-remotos. Muito pelo contrário, são as brincadeiras de rua, como jogos de bola de gude, sapata, balanço, gangorras, petecas e carretéis, que servem para prender suas atenções, assim como brinquedos muitas vezes feitos pelas próprias mãos dos pequenos, gerando um envolvimento sem igual.

O curioso, no entanto, é como esse imenso exercício de coleta foi trabalhado para ser levado às telas no formato de longa-metragem. Como em apenas 90 minutos se tenta resumir esses 21 meses de andanças pelo Brasil, é óbvio que tal feito não teria como ser totalizador. Sabendo-se desta limitação, opta-se pela busca de uma sensação geral ao invés de um relato pormenorizado. Assim, não há narração, entrevistas e nem depoimentos. Território do Brincar, o filme, é composto em sua quase totalidade por imagens aparentemente aleatórias, que, no entanto, formam um painel completo e abrangente, o qual absorve-se mais pelos instintos do que pela didática. É um formato interessante, ainda que de alcance restrito – é de se questionar quem deverá prestigiá-lo no circuito comercial, uma vez que seu dinamismo narrativo é mais subliminar e sem um enredo convencional a ser seguido.

A dupla de realizadores também se dividiu nos bastidores do longa Território de Brincar. Renata Meirelles assina o roteiro – ela já havia executado essa função no documentário Sementes do Nosso Quintal (2012) – ao lado de Clara Peltier, enquanto que David Reeks ficou responsável pela direção de fotografia e da câmera. Os dois haviam trabalhado juntos no curta Disque Quilombola (2012), que representou o início dessa parceria que agora resulta em algo maior e de visibilidade mais ampla. A imaginação e a criatividade que são vistas por todo o filme talvez pudessem ser melhor exploradas em cena, sem paralelos tão óbvios como aqueles que colocam lado a lado crianças da cidade e do interior envolvidos nas mesmas brincadeiras e com disposições similares. Ainda assim, a despeito de uma confiança demasiada aqui ou de um tropeço narrativo acolá, tem-se um produto pedagogicamente relevante, que deverá encontrar ressonância no seu público específico.

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