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17
fev-2021

Episódio 3: A Cozinha – Podcast Brincar em Casa

Na sequência você confere a transcrição completa do terceiro episódio do podcast Brincar em Casa, criado e desenvolvido pelo Território do Brincar, com patrocínio do Instituto Alana.

Para ouvi-lo acesse alguma das plataformas de áudio abaixo:

Os episódios também estão disponíveis no Youtube com recursos de acessibilidade – legendas descritivas em português e Libras.

Cozinha é o lugar dos aromas e sabores, do alimento, dos encontros de toda família e toda gente. Pra muitas culturas e povos a cozinha é lugar do fogo e do sagrado, a base que sustenta a vida.

E foi isso que nos contou um dos pais que entrevistamos. Ele também disse que a cozinha é um lugar sagrado na sua casa. Todos ali, adultos e crianças, adoram cozinhar e comer, então a mesa desse ambiente, mesmo não sendo a maior, se tornou a principal, tudo acontece ali.

E a mesma coisa acontece para essa família de Córdoba, na Argentina:

“É onde acontece tudo, na verdade.”

“Geralmente sempre tem alguém na cozinha fazendo alguma coisa pras crianças, um lanchinho. A gente comprou uma mesa que é bem grandona pra ter nessa sala, então essa mesa é uma bagunça constante, a gente passa muito tempo aqui. Então, sim, a maior parte das coisas que acontecem durante o dia acontece na cozinha.”

Mas a cozinha é também lugar de muito trabalho, daqueles que parece que não tem fim, porque é todo dia!

“Você fica em casa e você tem o almoço para fazer. Você tem janta. Você tem café da tarde. Você tem que limpar, você tem que passar. Você tem uma demanda né. Não dá pra você…Tem pessoas que conseguem né… Casa bagunçada e está tranquilo. E isso vai de cada pessoa. Que nem, eu não consigo.”

E as crianças, como viveram durante a pandemia, esse ambiente que transita entre o sagrado e a labuta mais rotineira?

Estamos começando mais um episódio de “Brincar em Casa”, uma série de podcasts do Território do Brincar, feitos a partir de uma pesquisa que fizemos com 55 famílias em 18 países, vivendo os mais diversos contextos. Nas entrevistas, buscamos saber  como as crianças estavam brincando durante o isolamento social da pandemia de Corona Virus. Apresentamos aqui as recorrências e singularidades desse brincar, relatados por mães e pais que conversamos, além de nossas reflexões sobre o que ouvimos.

Se você quiser saber mais como foi feita essa pesquisa, não deixe de escutar o episódio dessa série chamada “A Pesquisa”, onde explicamos todo o processo.

O assunto de hoje é a cozinha e como ela foi habitada pelas crianças e suas famílias nesse período de isolamento social.

E o que será que de fato nutre as crianças nesse ambiente?

“Eu lembrei de uma história que minha mãe me contou do Gilberto Gil no congresso de educação. Ele contou que ele foi alfabetizado na casa da avó dele e que de manhã ele fazia as lições na cozinha. E aí ele vai contando assim, então que o Pedro Álvares Cabral, que o cheiro do coentro e as mulheres falando, e o cheiro da cebola, e a aula de matemática, vai tudo se misturando. Aí eu lembrei dessa história e convidei o Kim pra fazer lição na cozinha enquanto eu cozinhava. E foi muito legal, assim, a cozinha se transformou também num lugar de lição. Num dia eu tava fazendo pão, no outro dia eu tava fazendo feijão. O dia que eu tava fazendo pão era uma lição de construir palavras. Ele ia lá pegava um pouquinho da massa de pão, voltava e olhava, ‘Palavra não sei o quê’ e ia lá pegava mais um pouquinho.

Os alimentos, as texturas, seus cheiros, a transformação que sofrem no calor do fogão… um laboratório vivo para os nossos sentidos. E um espaço de grandes aprendizados e experimentos.

A novidade na quarentena é a vivência no coletivo, a possibilidade de estar e de fazer junto as comidas, os bolos, os pães…

“E aí também assim, cozinhar junto, né… Arrumar a casa. Ela fez várias comidas outro dia. Fez shimeji, alho poró. Ajudou a fazer a lista do mercado e do sacolão.”

Cada um contribui do seu jeito, uns ajudam a cortar a cebolinha, outros a lavar louça, arrumar a mesa. Também tem quem fique sentado pertinho, fazendo companhia ou a sua lição de casa.

“Continue ligando os pontos seguindo o modelo.”

Enquanto uns fazem outros olham. Mas com olhos de quem quer aprender e admiram, quem já sabe fazer.

E não só olham mas também escutam. Como o caso dessa mãe que mora na Cidade do Cabo, na África do Sul, que nos enviou imagens de que ao lavar e secar a louça ela canta para a filha, enquanto as duas trabalham juntas.

Esse aprender vem pelos gestos mais do que pelas palavras. Percebe-se ali a alquimia dos alimentos, sente os cheiros, os sabores. Observar como mães e pais cortam uma cebola, desfiam um frango, lavam uma jarra de vidro, pode parecer banal, mas é um aprendizado vigoroso para as crianças. Ao ver fazer, elas entendem algo a mais do que a própria ação que acontece à sua frente. Entendem a capacidade de agir e a potência que isso tem!

Já viu criança quando escuta o caminhão do lixo? É como um imã. As crianças grudam em quem está fazendo algo com o corpo, seja lá o que for. Alguém trocando o gás, assentando um tijolo, costurando, fazendo jardinagem, tocando algum instrumento…

Elas seguem esses “fazedores”.  Se “alimentam” de como as mãos vão criando, arrumando, consertando, modificando. Não é exatamente que estejam aprendendo a fazer jardinagem, a assentar tijolos, ou a costurar.

Até podem aprender o básico mas o que nutre a criança é perceber a capacidade que o ser humano tem de transformar as coisas, e a intenção que acontece nesses gestos. Essa linguagem de ação do corpo é absorvida feito água pelas crianças.

O agir do adulto gera um desejo no agir da criança. Não é exatamente um fazer igual, mas é simplesmente fazer. Aliás, não é assim com o brincar das crianças também? Essa é a maneira que uma criança menor absorve o que é feito por uma criança maior e quer brincar também. E isso também se aplica no saber como as coisas são feitas desde o seu princípio.

“E ele adora essa coisa do ciclo, do processo de feitura das coisas, sabe? Aí ele fica pirado nisso. ‘Pai, conta como é que é feita a geleia.’ Ele pede um milhão de vezes. Ele pede um milhão de vezes. Porque o cara planta o morango e colhe os morangos e aí junta com (a gente lê os ingredientes) pectina, com maçã… Aí bota nos potes, fecha os potes, leva pro… Ele pira com essas coisas.

Então a cozinha é, literalmente, um prato cheio para as crianças. E nesses tempos de isolamento social, elas invadiram esse ambiente com sua fome de querer fazer coisas.

“Mas, olha, agora na quarentena ela tá ocupando todos os espaços, assim, porque a gente cozinha muito juntas, né. Então ela fica muito na cozinha também. Ela ama (cozinhar) ela adora, é uma figura né. A gente inventa um monte de coisa. Ela tem uma coisa que ela inventou né, que deu certo, que é uma granola que ela inventou. Então assim, a gente já batizou que a granola é dela. E aquelas coisas da cozinha né, origens da cozinha que sem querer dá certo.”

“Parece besteira, mas eu comprei a batedeira porque ela adora ligar a batedeira. Daí ela liga a batedeira então a gente acaba fazendo mais bolos, sabe, mais coisas assim. Porque ela acha muito divertido me ajudar com a batedeira. Então também é uma coisa que mudou por conta da pandemia. Porque eu não tinha batedeira, não tinha nem espaço para guardar uma batedeira, mas acabei comprando.”

E essa experiência na cozinha com as crianças, que para algumas famílias é algo novo, se revelou como uma grande brincadeira.

“ Às vezes durante o almoço eu peço ajuda. Então a gente vai… tudo vira uma brincadeira na verdade, né, porque a gente vai incorporando a coisa do dia a dia mesmo como brincadeira. E tem sido muito legal, viu?”

“Ela adora colocar os ovos, colocar o leite na batedeira, para ela é uma festa isso. É um evento quase.”

“Agora é a minha vez. Já foram três, mãe? Já foram quatro. É dois de leite? Vai, coloca. É muito bom chocolate. Quanto chocolate.”

“Também esse momento da cozinha, mexer na batedeira. Acho que nas últimas semanas é o que ela mais tem gostado de fazer.”

E essa outra mãe que tem uma filha curiosa e que adora colocar a mão na massa, então a mãe faz adaptações que se adequem a situação dela de cadeirante, para entrarem juntas nesse brincar de cozinhar, onde ao final sai um bolo de verdade!

“Daí eu preparo o que é no liquidificador e depois na hora de juntar isso com a farinha, eu deixo pra ela mexer. Aí eu faço uma adaptação na colher que ela vai segurar, porque ela não consegue segurar, então eu faço uma adaptação. Mas você tem que ver a cara da pessoa. É uma importância sabe… ‘Nossa, isso que eu tô fazendo, mamãe, é demais.’ E aí depois come o bolo, claro”.

Aqui tudo é de verdade. Cortar, misturar, raspar e ao final, comer!

“Mas eu procuro tentar o máximo que eu consigo, que a minha criatividade permite, tentar transformar esses momentos em brincadeira, mas não é fácil. E aí, assim, deixo as coisas que não quebram na pia para ele enxaguar e ele fica brincando com água um tempo e tudo bem. É isso aí.”

“Vou botar o feijão, o arroz. Agora vou botar água pra esquentar, esquentar… vai ficar delicioso, tenho que botar… esse é o feijão que eu vou botar…”

As mãos que se ativam nas cozinhas fazem brotar o sentimento do “eu posso”, “eu consigo”, “eu sei fazer”. Isso nutre um espaço interno nas crianças que nenhum espinafre, brócolis ou abobrinha conseguiria nutrir.

“Ela fica toda assim né, se sentindo empoderada, porque às vezes eu peço pra ela fazer a granola dela, é um barato né.”

“E ele tá muito mais autônomo nas coisas de casa, né. Tá ajudando na cozinha super. Tá ganhando uma desenvoltura na cozinha que ele não tinha, sabe? O jeito de pegar os objetos da cozinha. De conseguir já cortar uma farinha para abrir e botar sem deixar cair tanto no chão. Tá se ligando mais nessas coisas. E aí tá criando um repertoriozinho de receitas que ele tá fazendo sozinho.”   

E aqui descobrimos algo fundamental sobre a tão almejada autonomia: ela não se ganha, nem se explica, ela se conquista!  E então vem a pergunta:  Como conquistar a autonomia, sem se arriscar?

Nesse processo de conquista da autonomia o risco faz parte, embora na cozinha também haja a necessidade de uma assistência, até que chegue o  dia de fazer sozinho.

“Mas é um espaço que assim, normalmente tem um adulto junto, né, não é uma brincadeira que quando eu entro ela aconteceu. É um espaço que é sempre quando tem um adulto junto ali, e uma brincadeira em que normalmente ou eu ou o Gert, a gente tá assim, não faz, não corre, não pula, nanana, por ser um espaço da cozinha, com vidro, com mais possibilidades de acidentes.”

“Mãe, você acha que assim tá bom de anilina? ‘Acho que tá.’ Gastei quase todo o pote. Olha, cor de caramelo. Mistura tudo, tudo. ‘Pera aí que eu vou ajudar a por água bem aos pouquinhos pra ir vendo como fica.’ Calma, calma, a gente sabe.”

Outro assunto que apareceu com força na cozinha  foram as refeições em conjunto.

Foi quase unânime os relatos de que antes do isolamento social, crianças e adultos mal ficavam em casa e não comiam juntos. Saiam cedo e muitos só voltavam ao final do dia.

“Então a nossa rotina antes disso tudo era muito, assim, dormir só juntos. A gente passava o dia inteiro longe. Eles ficavam na escola, eu ficava na faculdade. Então nossa rotina era bem assim. Agora não, agora a gente fica mais tempo juntos mesmo.”

 “O dia aqui, assim, pra gente, é bem corrido, a gente levanta cedo, vai trabalhar. Nós somos como robôs programados.”

Essa questão também acontecia com famílias fora do Brasil, como nos contou essa mãe de três filhas e que trabalha como professora na comunidade onde mora da África do Sul.

Ela nos contou que antes as crianças acordavam cedo e saíam de ônibus para a escola, e ficavam lá o dia inteiro fazendo suas atividades. Mas agora está tudo mais difícil.

Esses depoimentos nos mostraram que a rotina de muitas famílias, se constituíam mais para fora , do que para dentro de casa.

Parece que antes da pandemia crianças e adultos de uma mesma família, se encontravam só nos intervalos de atividades, ou na hora de dormir.

 “A Isabele, ela ficava período integral na creche. Tipo eu levava ela às 7h e pegava as 5h da tarde”.

“A rotina dela era bem cansativa, né Renata. Porque ela acorda muito cedo, vai trabalhar comigo, aí eu deixo ela na escola. Ela ficava o dia inteiro na escola e quando eu saía eu pegava ela na escola já às 6h da tarde.”

Fazer refeições em família era algo distante da realidade de muita gente. Para essas pessoas a alimentação é delegada para as escolas, os “fast-foods”, marmitas e congelados. E nesta correria não há tempo para o estar junto…

Infelizmente durante essa pandemia, muitas famílias tiveram uma diminuição na qualidade alimentar, devido a falta de recursos nesse período. Aqueles que contavam com as escolas e instituições para reforçar o valor nutritivo da alimentação das crianças,  se viram em dificuldades.

Mas com todos em casa, fazer refeições juntos, independente do que há de alimentos na mesa, passou a ser novidade para várias famílias. A qualidade do estar junto foi notada por muitas pessoas.

“Tomamos o café juntos os três, que também não era uma coisa que acontecia, porque ela tomava num horário, eu no outro e meu marido no outro. Agora a gente toma juntos.”

“A gente para em algum momento do dia, faz o almoço, todo mundo tá comendo junto e isso tem feito um bem pra gente muito grande.”

“Acho que essa quarentena veio pra gente dar uma sacudida… olha, cuide de você, cuide da sua família, cuide de quem você ama. Dá mais atenção, dá mais espaço pra você mesma ser mais feliz.”

Essa novidade de estar junto na mesa, não é pouca coisa para as crianças.

Como vimos em vídeo enviado por uma família, com uma menina brincando na pequenina casa de bonecas, com a mesa posta e quatro bonecos sentados ao redor com um pai, uma mãe e duas filhas.

“‘Oi!’ ‘Oi irmã, bom dia.’ ‘Bom dia.’ ‘Vocês já começaram a tomar café?’ ‘Não.’ ‘Eu queria acompanhar desde o começo.’ ‘Tá bom.’ ‘Acabamos todo o café da manhã, foi uma delícia.’ ‘Ai…’”

Uma singela cena que nos parece celebrar esse que foi um dos fortes efeitos da pandemia.

Portanto, nesses tempos de isolamento social, a cozinha com suas experimentações e refeições em família, talvez tenha sido o ambiente da casa, que mais se transformou. É impressionante como ela se presta a tantos ensinamentos…

O que antes estava organizado pelos horários de atividades externas, como escola, trabalho… de repente, precisou de um novo fluxo.

Nessa pandemia, quem ditou a rotina foi  o mundo de dentro, ou seja, o modo de ser de cada família, e não tanto mais o mundo de fora. E as refeições foram um marco nesse novo ritmo cotidiano.

Enquanto alguns foram achando um ritmo para os seus dias, outros estavam tateando como fazer isso. E tiveram aqueles que assumiram, honestamente, que não davam conta de seguir ritmo algum.

“Agora durante a quarentena as coisas estão bem mudadas. Estamos tendo uma dificuldade dessa coisa de horários, né, de estipular com tanta rigidez os horários, né.”

“Depois da quarentena, tudo mudou. Os horários de Manu se desregularam bastante, bastante mesmo, e isso é o efeito colateral maior que a gente tá vendo na quarentena.”

Por outro lado, essa mãe de um menino de 4 anos, que vive em Londres, percebe que a construção de um ritmo em casa ajudou a todos. Ela entende que essa organização varia de família para família, mas acredita que facilita muito.

“A gente estabeleceu assim uma dinâmica bem regrada né, porque fica muito mais fácil, né. Em qualquer momento com criança você tem que ter uns rituais bem, assim, marcados pra coisa ficar mais fluída né”.

E tem também aquelas atividades que se repetem no dia a dia da criança, como arrumar a casa, brincar, aulas escolares, que vão criando momentos de expansão e contração, como se estipulassem pequenos rituais.

Tudo que tem constância, cria hábito, e se por algum deslize os pais esquecem, as crianças anunciam: “Mas lembra que sou eu que faço o suco do almoço?”

Ter esses ritmos marcados gera uma segurança nas crianças, que sabem o que vai vir depois, e depois e depois…

E comer todos juntos tem sido uma maneira de ritualizar o cotidiano. Tudo pode parecer um pouco estranho e diferente nesses tempos de pandemia, mas na hora da refeição, lá estão todos à mesa, compartilhando suas angústias, descobertas, medos, desafios, conquistas…

E a cozinha talvez possa ser esse ambiente que criou intensas memórias deste período. A ser lembrado pelos sabores e aromas de singelas refeições cotidianas em família e que serão carregadas com a saudade daquele bolo de banana que se fazia juntos.

CRÉDITOS

Brincar em Casa, este podcast do Território do Brincar foi feito com o patrocínio do Instituto Alana. Agradecemos todas as mães, pais, tias e avós que conversaram sobre suas experiências de quarentena. Agradecemos você, ouvinte, pelo interesse e retornos. Agradecemos o grupo de Pesquisadores, Elisa Hornet, David Reeks, Gabriel Limaverde, Lia Mattos, Reinaldo Nascimento, Renata Meirelles, Sandra Eckschmidt, e Soraia Chung Saura que dedicaram tanto do seu tempo contemplando, dividindo, entrevistando, e analisando esta experiência. A Coordenação da pesquisa é de Sandra Eckschmidt e Renata Meirelles, essa que vos fala. A edição e desenho sonoro deste episódio é de Fernanda Leite e David Reeks. Mixagem Som de Black Maria. Trilha sonora Blue Dot Sessions. Co-direção e finalização de David Reeks. Produção de Renan Paini. Assistência técnica de Guilherme Annes. A equipe do Território do Brincar: Thais Oliveira Chita e Maria Clara da Silva Matos. Até a próxima.

 

 

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