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09
ago-2019

Para a sempre menina Lydia Hortélio

 

Lydia Hortélio | foto: André Seiti

(por Renata Meirelles)

“Tenha a coragem de dizer que o brinquedo não é para nada, é só para ser feliz”, dizia Lydia Hortélio entre uma cantiga de roda e outra. O tablado de madeira do Instituto Brincante chegava a vibrar mais feliz quando nosso grupo, de mãos dadas, ia aprendendo brincadeiras, naquelas tardes do final dos anos 90.

Eu, recém-formada, ouvia tudo aquilo feito um passarinho querendo dar os primeiros vôos. Meu desejo de fazer do brincar um trajeto de vida, já era fato. Lia bastante, estudava quem havia se aprofundado nesse tema. Mas a forma viva com que Lydia traduzia, no corpo e na voz, sua experiência nessa área era curativa e libertária para qualquer um de nós que cantávamos com ela. Era um grande alívio e uma gigante referência a sua doce autoridade – disposição de um corpo que havia compreendido o brincar. Aliás, foi dela que ouvi pela primeira vez a citação da musicista francesa Mira Alfassa (1878-1973) de que “compreende perfeitamente aquele que compreende com o corpo”.

Sua vasta pesquisa musical da cultura infantil nos reforçava o quanto essa música está no corpo, no brincar e é para ser feita com o outro. Um verdadeiro bálsamo alegre e sensível de convívio entre as crianças.

Partir do princípio de que se entende o brincar apenas lendo e estudando deixa de valer: “Não é com a cabeça que vamos entender a criança”, dizia Lydia. O convite dela era para ir ver, viver, ouvir, percorrer terras ainda “encobertas” desse Brasil adentro e sentir a alma infantil. Escutar o canto do povo para entender as raízes do nosso próprio canto. Um convite que vinha como um empurrão para largarmos o conforto do ninho e batermos asas.

Vestíamos uma terna coragem a cada encontro sobre aquele tablado de madeira. Dávamos forma aos desejos de ganhar mundo afora, para criar mundo dentro. Lydia nos alimentava com um alto teor inspiracional e saíamos todos nutridos dessa revolução vinda através da infância e do brincar.

Desde esses momentos reconheço que o brincar é vivo e precisa ser compreendido por dentro, afinal, como ela sempre diz: “o corpo das crianças devolve ao mundo em brincadeiras, aquilo que elas sabem por dentro”.

Realizada pelo Itaú Cultural, em parceria com o Instituto Alana, a Ocupação Lydia Hortélio – que pode ser visitada até dia 8 de setembro – revela ao público a longa trajetória de Lydia pela música infantil, seu acervo de brinquedos e repertório de brincadeiras. Que a exposição possa criar em mais pessoas um novo contorno de esperança, como em mim criou.

Meu mais sincero agradecimento pela trajetória de vida compartilhada, de forma tão viva, pela sempre menina Lydia Hortélio.

Para conhecer mais sobre a trajetória de Lydia Hortéli acesse: www.itaucultural.org.br/ocupacao/

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