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17
mar-2014

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Para conseguir olhar os contornos de Tatajuba só com ajuda, como no conto de Eduardo Galeano, quando o filho ao avistar o mar pela primeira vez pede ao pai: “Me ajuda a olhar”.

A exuberância da natureza nos exige silêncio para ver, pede um olhar novo, um olhar infantil, daqueles que vêem as coisas com o espanto da primeira vez.

Assim, tentar descrever a paisagem é desmerecer a realidade, é perturbar demais esse silêncio. Só sendo poeta para ousar dizer sem ofender as imagens.

Tatajuba, ou mais especificamente, Nova Tatajuba é uma dentre as quatro comunidades desse canto do Brasil onde é possível ver o sol se pôr no mar.

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As areias das dunas, que trazem turistas de tão longe, são temidas pelos moradores. São elas que definem onde é possível morar, plantar e criar animais. Foram elas que desmembraram a antiga comunidade, soterrando casas, plantações, escola, igreja, e obrigaram seus habitantes a criar quatro novas comunidades: Nova Tatajuba, Vila São Francisco, Vila Nova e Baixa Tatajuba.

Quem viveu a década de 70 por aqui, olha para os lados e vê com desdém essas areias. Arrancaram o que conseguiram de suas casas como telhas, madeiras, e alguns móveis, e com o esforço de permanecer na terra que nasceram, re-ergueram suas vidas em áreas um pouco mais distantes das dunas.

Hoje sofrem o risco de ter que sair desse lugar, porém, não mais pelas areias das dunas, e sim pela força humana gananciosa de grandes empresas e empreendimentos turísticos. Estão em grandes brigas judiciais para não ter que deixar para trás suas casas e a terra em que nasceram.

Cada uma das quatro comunidades abriga entre 500 a 900 habitantes, sendo Nova Tatajuba a maior delas. Aqui a escola vai até o nono ano, o posto de saúde abriga o único médico da região, além de possuir algumas instalações turísticas. É em Nova Tatajuba que nos instalamos e estamos sendo recebidos com um acolhimento encantador de todos, adultos e crianças.

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As brincadeiras acordam cedo, por volta das 7h pois às 9h já é bom estar de volta abrigado debaixo de um teto ou da sombra de uma árvore, senão o sol derrete a gente, derrete os equipamentos fotográficos, derrete os movimentos e principalmente as ideias, inacreditável a força desse calor. Só se volta a ativa lá pelas 16h, quando todos re-começam o dia e saem de casa novamente.

A noite é uma festa de brisa fina, ótima para exibirmos filmes na praça, aproveitando as escadarias da igreja como platéia e o nosso carro como tela. O luar tem se empenhado em alimentar nossas conversas após os filmes e a trocarmos tantos saberes entre todos nós.

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Texto: Renata Meirelles

Fotos: Google Earth, David Reeks e Renata Meirelles

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