mar-2014
As mãos que fazem os meninos
Tem menino que, ao fazer seu brinquedo, é feito passarinho quando aprende a voar, tem a vontade aguçada e as mãos persistentes. Não arreda do fazer até que se finde o que havia desejado. Tenta, erra, concerta, ajeita, apruma, refaz, põe até careta no rosto, língua de fora, para ajudar a dar certo, mas desistir jamais.
Assim também como os passarinhos que cantam anunciando chuva, perigo ou mais uma manhã de sol, os meninos fazedores de coisas veem anunciar o quanto a mão instrui, o quanto vasculhar as entranhas das coisas devolve o tamanho de seu esforço e o peso e medida de seu empenho.
Ah, como são essenciais para esses meninos essas tardes dentro das garagens, oficinas e quintais, mergulhados em caixas de ferragens, entulhos e ferros velhos. Ali eles dão forma às próprias mãos e saem ganhando altura.
Aqui em Abadia há desses passarinhos, ou melhor, desses meninos de mãos esbanjadoras de vontade.
Muito antes de saber da importância do reaproveitamento de materiais, as crianças já fazem isso há séculos. Sabem que tudo, absolutamente tudo está disponível ao seu fazer, exercitam seus olhos atentos e suas mãos ávidas por materiais que pedem pelas mais diversas habilidades.
Passarinhos e meninos ganham a liberdade de voo com as próprias mãos.
Texto e fotos: Renata Meirelles
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