ago-2014
“Acho que era visagem”
O fogo convida para dizer do medo, para escutar a coragem, para aquecer o frio. Foi só sentar ali que as histórias foram chegando sem serem convidadas, simplesmente apareceram.
Em Tatajuba todo menino tem uma história terrível para compartilhar. Não só de ouvir dizer não, mas de já ter vivido mesmo. Essas crianças vivem sendo testadas na sua coragem. Elas já sentiram o sopro do medo nos olhos e já se depararam frente a frente com as assombrações.
Gleistone conta que viu umas pernas e um vulto pelo mangue, e não sabia o que era. Só escutava a “zoadinha que os caranguejos fazem das patadas“, o resto era puro silêncio. “Era umas pernas peludas, só vi do joelho para baixo“. “Quando olhei para cima, vi que era lua cheia. O bicho era quase dessa altura assim, oh! Pretão, tipo um porcozão olhando para mim. Peguei uma pedra joguei nele e ele saiu correndo, na ponta da barreira. Aí a maré tava cheia, aí só vi a bocão d’água. Ai não vi mais ele não“.
Maurício conta do passeio que fez com a mãe pelas Cabaceiras. Viram um vulto preto “bem paradão” e depois olhou de novo e não estava mais no lugar. O pai tem dúvida se era o lobisomem, mas ele tem para ele que era sim.
O Lucas diz que às vezes quando vai para casa escuta um menino chorando lá de dentro do mangue. O Maurício diz que é um menino pagão.
Um dia quando Totonho voltou para casa com a mãe, escutou a zoada de pessoas falando no terreiro que iam matar alguém. Quando abriu a porta não tinha ninguém, não tinha rastro de nada.
De história em história uma coisa é certa, todos acham “que era visagem”.
Texto e foto: Renata Meirelles
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