mar-2014
Brincadeira da queixada (Nankiô)
Os Panará contam que antigamente os bichos também eram gente. Assim como os humanos, os bichos também faziam aldeias, festas, caçadas. Os panará aprenderam com os bichos muitas coisas, como a plantar milho com o rato e o amendoim com a cotia. Antes da colheita do amendoim, os panará ainda hoje fazem a festa como a cotia ensinou e lembram dessa antiga história que é transmitida de geração em geração, desde há muito, muito, tempo.
Os panará também aprenderam com seus antepassados a brincadeira da queixada. As queixadas que são criadas na aldeia gostam de entrar nas casas e bagunçar todas as coisas e mexer nas comidas. Os ancestrais dos panará aprenderam a fazer a brincadeira com a queixada e mostraram para gente como é.
Primeiro as crianças se pintam de jenipapo ou urucum, depois elas saem em fila cantando a música da queixada junto com um adulto que ensina como se brinca.
Vão dançando em fila até chegar na casa no centro da aldeia, casa onde os homens se reúnem toda noite e onde também os meninos eram formados quando deixavam de ser crianças. Lá os meninos caem no chão “mortos” como as queixadas que são caçadas, um adulto pega criança por criança e vai ajeitando-as em roda como ajeitam as caças em um jirau para serem moqueadas (modo de assar as caças no calor da brasa e fumaça).
Os antigos aprenderam com os bichos e até hoje ensinam as crianças. Nessa brincadeira, as crianças viram queixadas e recriam o modo como os antigos viviam quando os bichos eram gente. Brincar é uma forma do corpo entender as histórias que são contada pelos mais velhos. As crianças vivem em seu corpo a ancestralidade da história de seu povo.
Quem ensinou essa brincadeira para nós e para as crianças da aldeia foi o Sykiã.
Texto: Paula Mendonça
Fotos: Renata Meirelles
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