jun-2015
Documentário mostra crianças brasileiras que ainda brincam sem celular e eletrônicos
A matéria pode ser lida no site do jornal Folha de São Paulo ou a seguir:
ELEONORA DE LUCENA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tampinhas de garrafas, retalhos, pedras, cordas, galhos, barro. Tudo serve para criar e viajar na imaginação. É o que mostra “Território do Brincar”, documentário de David Reeks e Renata Meirelles, em parceria com o Instituto Alana.
Durante dois anos, os cineastas percorreram o Brasil para mostrar como brincam as crianças. Em grupos ou sozinhas, elas labutam: são cozinheiras, motoristas, engenheiras, caçadoras, construtoras, cuidadoras. Na tela, só meninos e meninas; adultos ficam de fora. A câmara acompanha a construção de caminhões com restos de madeira e corda. Jangadas são feitas de isopor e pano. Casas de lençol abrigam cozinhas de bolos de terra.
Engenhocas surgem de peças achadas em entulhos. Com exceção de um grupo que joga no que parece ser um condomínio de casas com ruas asfaltadas, os protagonistas correrem soltos por quintais, matas, praias e mangues. Muitos estão de pés descalços e saltam sem medo aparente.
Para deixar apavorados pais superprotetores, as crianças do documentário usam facas, tesouras, facões, machados e fogo na fabricação de seus brinquedos. Muitas vezes, a empreitada não dá certo: o barco vira, o carrinho perde a roda, a geringonça descola, a casa literalmente cai. Ninguém se desespera por isso: constrói de novo, faz amarração reforçada, costura mais folgado, busca mais equilíbrio para a coisa.
Em turmas, eles combatem numa guerra de pipas, saem mascarados apavorando a vizinhança, perseguem bandidos, improvisam armadilhas, caçam passarinho, contam histórias de terror. O filme revela um mundo muito diferente dos parquinhos emborrachados e protegidos, dos brinquedos eletrônicos, das bonecas tecnológicas, da televisão e do celular. Nada disso aparece. Estranhamente, a sempre onipresente bola de futebol não é vista.
Cachorrinhos de estimação tampouco. Privilegiando o registro de comunidades mais pobres e afastadas do burburinho e do consumismo das metrópoles, o documentário é uma viagem lúdica. Resgata formas de brincar criativas, jeitos de antigamente que se perpetuam. A música inovadora e primorosa do Uakti aprimora a costura das imagens.
Céticos podem ver na fita uma atmosfera exageradamente rósea e livre de violência, impossível de ser reproduzida nos prédios onde cresce a maioria da gurizada de hoje. Pode ser. Mas vale conhecer essa expedição pelo Brasil, que acompanhou mais de uma centena de crianças. Num mangue, a diversão é catar bichinhos e colocá-los numa garrafa de plástico. Quando o garoto consegue capturar mais um, exibe o feito e proclama: “Aqui tem tudo!”. Deve ser bom.
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