Um povo que tem 85% da população formada por jovens e crianças é um povo de intensas infâncias. Os índios Panará, que por muito tempo fugiram do contato com os brancos, já perderam seu território e o retomaram. Hoje, as crianças recontam essa história a seu próprio modo.
Neste 19 de abril, Dia do Índio, o Catraquinha relembra o registro do Território do Brincar, projeto que registra as brincadeiras das crianças brasileiras, da infância dos Panarás.
Os Panarás são um grupo indígena que habita o norte do estado brasileiro do Mato Grosso e o sul do Pará, mais precisamente na Área Indígena Panará e Parque Indígena do Xingu e falam Caiapó do Sul.
Piῖjãsêri é a palavra usada pelo povo Panará para falar sobre brincar. Essa palavra pode se referir às brincadeiras do dia a dia das crianças, mas também a festas e cerimônias que envolvem também os jovens e adultos – e são ensinadas a todos pelos mais velhos.
Entre as crianças panará, folhas viram hélices de avião; um galão d’água cortado ao meio vira um carrinho; os galhos de mamoeiro se transformam em espingardinha de pressão; e até o fruto do tucum pode virar um peão.
Mas existem muitos outros tipos de piῖjãsêri: a brincadeira do macaco, da onça, da queixada e até do peixe tucunaré. Essas piῖjãsêri revivem um tempo antigo em que os bichos eram gente e ensinaram muitas coisas aos Panará.
Confira os registros
Quando os Panará foram transferidos de suas terras para dentro do Parque do Xingu, pelos irmãos Villas Boas, devido a construção da estrada BR 163 que começou a dizimar esse povo por doenças e invasões, eles foram morar em uma aldeia junto com os índios Suyá. Dessa época muitas trocas de saberes aconteceram entre esses dois povos, incluindo o pião de tucumã, que foi aprendido pelo nosso amigo Sykiã.
O pião pode ser feito com a semente do tucumã, uma fruta de uma palmeira típica da região amazônica ou com uma pequena cabaça.
Como surge uma brincadeira? Quem inventa? Às vezes é um peixe que ensina como brincar. Assim aconteceu com o Perankô, professor Panará da Escola Indígena Matukre.
Certo dia, quando pescava, Perankô observou o vai e vem dos peixes e reparou como os menores perambulavam por águas rasas, e o tucunaré, peixe grande, não saia do fundo. Por mais que quisesse pegar os peixinhos menores, quando eles chegavam no raso, o tucunaré ia até certo ponto e voltava para o fundo. A brincadeira surgiu então dessa observação.
A experiência da vertigem é a chave dessa brincadeira, uma experiência corporal que fascina desde sempre e em todos os cantos do mundo. Normalmente os Panará usam a embira para brincar, mas ninguém tinha uma grande o suficiente para que a brincadeira acontecesse, então trocaram a embira pela corda, e colocaram uma tábua, virou uma balança.
Brincadeira da onça
Na aldeia Nasêpotiti muitas brincadeiras se remetem a animais da região, e o mais temido de todos, a onça, não poderia ficar de fora da brincadeira. Na brincadeira da onça o pekã é um pássaro que avisa o perigo da onça, e os porcos são aqueles que devem ouvir o aviso do pekã e fugir da onça. Uma pessoa tem que fazer o papel do peka e que ficar em cima de um lugar alto.
Na aldeia casa é para descansar e dormir, os panará dormem em rede ou cama feita por eles mesmos. Antigamente panará dormia no chão, as casas eram grandes e moravam muitas famílias junto com o sogro. Hoje em dia as casas podem ser menores, mas sempre a cozinha fica para fora da casa. Para cozinhar, usa-se fogo de chão, a cozinha fica no quintal de cada casa, é uma casa sem parede, é um espaço onde se tem redes para descansar e utensílios para cozinhar.
Brincadeira da queixada
Os Panará contam que antigamente os bichos também eram gente. Assim como os humanos, os bichos também faziam aldeias, festas, caçadas. Com os bichos, aprenderam muitas coisas, como a plantar milho com o rato e o amendoim com a cotia. Também aprenderam a brincadeira da queixada, criadas na aldeia e que gostam de entrar nas casas para bagunçar todas as coisas e mexer nas comidas.Veja como funciona a brincadeira.
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