ago-2015
Brincadeira livre ou conduzida?
A matéria pode ser lida no site Tempo de Creche ou a seguir:
O que desperta sua inspiração?
O documentário Território do Brincar Diálogo com Escolas é uma ótima fonte!
Coordenadores e professores estão constantemente buscando recursos e estratégias para alimentar discussões, trocas e formações nos encontros, reuniões e paradas pedagógicas. Foi lançado um documentário sob medida para provocar muita reflexão sobre um tema que é a essência da infância e, por consequência do currículo da Educação Infantil: a brincadeira.
Em mais um projeto vivo e profundo, a parceria Território do Brincar com o Instituto Alana nos traz uma lição sobre a infância. Aquela que ficou guardada num cantinho da cabeça e do coração e que nós, educadores, precisamos resgatar para olhar e enxergar as crianças com as quais trabalhamos.
O Documentário “Território do Brincar: diálogo com as escolas” apresenta o projeto de dois anos de viagens da educadora Renata Meireles e do documentarista David Reeks para registrar o universo brincante das infâncias do Brasil e um diálogo franco com 6 escolas para trocar e perceber os ecos que partiriam desses registros.
Assistir ao resultado do trabalho é sentir o impacto e o incômodo provocados por conteúdos que nos atravessam e sensibilizam:
Será que ainda sabemos o que é brincadeira?
Conseguimos respeitar o território da infância?
No bate-papo do filme ouvimos educadores que se abrem, revelando seus processos internos de despertar para uma realidade vivida e esquecida do universo infantil: a brincadeira livre.
Algumas questões levantadas pelos educadores entrevistados compõem uma pauta de olhar para o documentário e encaminham discussões depois de assisti-lo:
♦ Disponibilizar um tempo para o brincar. Mas não meia hora! Meia hora é o tempo de pensar… até o criar… o fazer e agir. Em meia hora não acontece o brincar.
Encontrar o quintal da escola. É o espaço da brincadeira espontânea e livre.
♦ O Território do Brincar trouxe a questão dos brinquedos não estruturados. Nós percebemos que [esses materiais] trazem uma reflexão maior, a criança cria muito mais, brinca muito mais e imagina situações que não experimentaria com outros materiais.
Se oferecemos um tronquinho, tem que sair alguma coisa de dentro [da criança] para o tronquinho se transformar em outra coisa. Ele é um objeto pouco pronto, então ele exige da criança uma atividade interna para ela brincar.
Qualquer coisa que a natureza oferece traz sugestões. O tronco tem a curvatura, de repente tem um buraco que se pode passar alguma coisa. Já o brinquedo industrializado é igual sempre.
♦ As imagens das crianças da comunidade pomerana (Espírito Santo), serrando com serrotes bem pertinho do dedo do pé, com martelos, mexeu com a gente [educadores]. Porque vamos cercando as crianças numa bolha: não pode isso, não pode subir na árvore porque é perigoso, não pode andar descalço porque está frio, não pode ficar sem blusa. E descobrimos que tem uma potencia. As crianças mexem com o serrote, podem cair da árvore e se machucarem. Que bom! Quando eu era criança não corria porque tinha medo de me machucar. Não me machuquei, mas também não sei correr!
Trazer as ferramentas assustava [os educadores]. O que vai acontecer? Vão martelar o dedo? Vão serrar? Mas não aconteceu nenhum acidente! As crianças se organizam e os conflitos são [bem] resolvidos por elas. Então elas mostram que são potentes.
♦ [Assistir] o brincar de diferentes faixas etárias [juntas] provocou os educadores. O brincar na Educação Infantil isola os pequenos. Planejamos o brincar dos pequenos nos intervalos do brincar dos grandes por proteção. Os pequenos tem muita admiração pelas brincadeiras dos grandes: como conseguem subir numa árvore tão alta e construir casinhas tão lindas? Isso desperta nos pequenos a vontade de aprender e crescer. Os pequenos só olham [os grandes]. Parece que não estão fazendo nada. Depois, de repente, eles sabem fazer também!Quando tem só uma baixa etária brincando é difícil isso acontecer.
♦ Comecei a contemplar o brincar das crianças, observar e perceber o quão rica a brincadeira pode ser.
Quando a criança está brincando não é hora de descanso, de café, de bater papo. É hora de olhar e entender o que essa criança está fazendo e o que está dizendo sem palavras. É o que ela fala sem falar. [É] conseguir escutar o corpo das crianças que estão dizendo tudo corporalmente.
♦ Qual é o gesto que trazemos dentro de nós que é um exemplo para a criança imitar? O que o pai faz na frente do filho? O que ensina? Agora, qual é o meu papel enquanto adulto? O que estou fazendo na frente das crianças? O que é digno de ser imitado?
♦ Tem criança que a primeira coisa que faz de manhã, quando chega [na creche], é pegar todos os móveis para construir casinha. Percebi que às vezes a casinha era construída mas não era ocupada pela criança. Em outro momento ou outro dia essa casinha passava a ser ocupada. Então, tem o tempo e o espaço que a criança precisa para fazer essa brincadeira. Será que estamos deixando a criança ser criança? É muito difícil observar e ser neutro. É se colocar na posição de mediador e não de dono do conhecimento. É difícil, para nós, professores aguentar [essa posição] porque fomos formados para responder. O professor é formado nas formações de pedagogia a sempre intervir. O Território do Brincar está mostrando para a gente se recolher.
→ Uma atividade de formação pode ser organizada com esse material provocador.
Nossa sugestão é que os sete trechos que destacamos podem ser impressos e entregues a grupos de educadores para que sejam lidos e discutidos. No final da atividade, numa plenária, os grupos podem apresentar seus trechos e suas conclusões. Propomos algumas questões a serem respondidas a partir dos depoimentos selecionados:
- O que você acha que levou o educador a dar tal depoimento?
- Você concorda ou não concorda?
- Acha que pode mudar algo no seu dia a dia?
- Sua postura é de interferir no espaço e nos materiais ou de conduzir as brincadeiras?
O documentário Território do Brincar Diálogo com Escolas é um material valioso que enxerga a infância dos variados contextos do Brasil. Mas o sabor que ele deixa é de uma infância histórica e universal. Que aconteceu quando éramos pequenos e que deve acontecer sempre. A pesquisadora Liselott Olsson afirma que quando permitimos, as crianças desfrutam de experimentação vital, intensa e indomável. Escolhem essas experiências no lugar de se dedicarem a pesquisas já estabelecidas. Crianças vivas, criativas e investigadoras de si e do mundo.
♦♦♦♦♦
Os depoimentos destacados do documentário Território do Brincar Diálogo com Escolas pertencem a educadores das instituições:
- Espaço Alana, São Paulo, SP
- Colégio Oswald de Andrade, São Paulo, SP
- Casa Amarela Maternal e Jardim de Infância, Florianópolis, SC
- Colégio Sidarta, Cotia, SP
- Escola Vera Cruz, São Paulo, SP
- Escola Vivaverde, Bragança Paulista, SP
Um livro com artigos interessantes de diversos educadores e DVD do documentário pode ser adquirido on line.
No site do Território do Brincar você pode conhecer mais sobre a Renata Meirelles, o David Reeks e os projetos. No site estão vídeos do percurso da dupla e fotos e dicas de brincadeiras de crianças de vários pontos do Brasil. Vale a pena conhecer!
Já falamos sobre outros projetos do Território e conversamos com a Renata Meirelles nas postagens:
Território do Brincar – num filme de brincadeiras, dicas para brincar com os olhos e o coração!
Renata Meirelles conta como surgiu o livro Cozinhando no quintal
Renata Meirelles fala sobre tanque de areia e o tempo do brincar
Bibliografia:
Liselott Olsson: Eventicizing Curriculum – Learning to Read and Write through Becoming a Citizen of the World http://journal.jctonline.org/index.php/jct/article/viewFile/173/08olsson.pdf
. 5
Deixe uma resposta