jun-2017
Waapa: o brincar das crianças que vivem às margens do Xingu
Waapa: o brincar das crianças que vivem às margens do Xingu
Texto: Fernanda Miranda| Fotos: William Nunes
O aprender brincando da infância Yudja, debatido no curta-metragem ‘Waapa’, que desperta a urgência da conexão com a natureza e o outro
As crianças amanhecem na floresta remando lentamente pelas águas do rio Xingu. Elas pescam, caçam e participam da vida conjunta na aldeia. Mas como esses meninos e meninas ganham as habilidades necessárias para dominar a vida compartilhada com as plantas, os animais e o rio? O que nutre e do que é feita essa infância?
Essas são as perguntas que guiam Waapa, curta-metragem dirigido por David Reeks, Paula Mendonça e Renata Meirelles, lançado na sexta-feira, 26 de maio de 2017, na 4ª Ciranda de Filmes. A obra aborda a infância do povo Yudja, que vive na aldeia Tuba Tuba, no Parque Indígena do Xingu (MT).
“O nome Yudja significa ‘dono do rio’. Retomar a história desse povo é entender o conhecimento milenar que eles têm sobre a região”, contou a diretora Paula Mendonça em uma roda de conversa após a exibição do filme. O bate-papo, mediado por Renata Meirelles, também teve a participação do médico antroposófico Michael Yaari.
A conversa contaria ainda com a presença de líderes da aldeia, que não compareceram ao evento em sinal de luto pela morte de uma liderança Yudja na mesma semana. “A ausência deles neste palco foi sentida, mas também nos ensina. O respeito ao luto é algo que nos educa, demonstrando o respeito à vida, à criação e à morte”, disse Paula.
Waapa, palavra da medicina dos Yudja, significa “remédio que cura” ou “elemento da natureza que ensina”. Por esse caráter didático, o remédio, ou “waapa”, é aplicado nas crianças para que corram rápido, tenham boa pontaria ou consigam tecer redes com a habilidade de uma aranha tecelã.
Os remédios são apanhados das plantas, dos animais e do rio. A pata da saracura, por exemplo, é esfregada nas pernas das crianças para lhes transmitir a agilidade da ave; uma determinada aranha, por outro lado, transfere sua habilidade de tecer às mãos das meninas que deverão crescer com essa habilidade. “Estamos falando de uma sociedade que inclui as crianças em todos os afazeres da vida. Elas aprendem as tarefas observando, se arriscando e brincando, e assim vão assimilando o entorno”, completou Paula.
Para esse povo, o brincar vai além do prazer. É por meio das brincadeiras que os Yudja se expressam e internalizam experiências. “Na aldeia existe uma concepção fundada na condição humana como corpo-alma. Toda fonte de vida tem sua parte espiritual. O cuidado com a alimentação e o manejo dos elementos da natureza vão deixando a alma mais firme no corpo. Percebem que a criança não está saudável quando ela para de brincar. A origem do brincar tem a ver com vínculo. Quando a criança não brinca, ela não está estabelecendo vínculos. É um afastamento da alma”, explicou Paula.
Em determinado momento do filme, as crianças passam horas sentadas aprendendo a produzir flechas de bambu. Para o médico Michael Yaari, a cena manifesta o modo com que os pequenos aprendem a lidar com o tempo presente. “As crianças ocupam-se com o essencial das coisas. Até estão interessadas em terminar a flecha, mas querem, principalmente, que ela passe por todo o processo que merece, mesmo que isso leve horas”, disse.
Isso seria, para ele, uma oportunidade de refletir sobre as atuais contradições dos centros urbanos. “O estado de saúde dos indígenas tem a ver com a essencialidade das coisas. A cidade, por sua vez, vive apenas o supérfluo. É interessante perceber como nós, urbanos, somos índios descapacitados. E a gente precisa se recapacitar para retomar a conexão com a natureza e com o outro”, falou Yaari.
O filme permite ao público identificar um modo de vida com um olhar atento à infância, dando abertura “para a observação de nós mesmos”, como disse Paula. “E o que a cidade tem feito para honrar nossas crianças?”, questiona. Ela mesma responde: “nós, que vivemos nela, temos que lutar para que os espaços públicos possam ser frequentados pelas crianças. É poder estar mais com nossos filhos e constituir laços comunitários”.
O curta “Waapa” está disponível para exibição pública pela plataforma VIDEOCAMP, basta cadastrar-se e organizar sua exibição!
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[…] ano, o programa Território do Brincar, correalizado pelo Instituto Alana, lançou o documentário Waapa, produzido pela Maria Farinha Filmes e assinado por David Reeks, Paula Mendonça e Renata […]
como professora do curso de pedagogia, tenho o maior interesse em apresentar o filme waapa aos meus alunos!
Olá, Luana!
Ficamos muito felizes de saber seu interesse pelo curta!
Para assisti-lo, é necessário fazer uma exibição pública. Para isso, basta cadastrar-se na plataforma VIDEOCAMP [http://www.videocamp.com/pt], acessar a página do curta “Waapa” e clicar em “organize uma exibição”.
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Após o preenchimento do formulário você receberá – em até 7 dias úteis – uma senha para acessar o filme na íntegra e realizar seu download.
Recomendamos que o filme seja solicitado com certa antecedência em relação à data prevista para exibição. Assim haverá tempo hábil para que o download seja realizado e o filme testado.
Adoraríamos conhecer as suas impressões sobre o filme e as manifestações da plateia! Não deixe de mandar o relatório solicitado pelo VIDEOCAMP!
Grande abraço e bom filme 🙂
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Equipe Território do Brincar
TENHO INTERESSE EM ASSISTIR O FILME PARA COLABORAR COM REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR COM PROFESSORES.
Olá, Maria! Como vai?
Todos os nossos filmes estão disponíveis para exibição pública através da plataforma VIDEOCAMP! Faça seu cadastro aqui: http://www.videocamp.com/pt
e organize uma exibição pública de Waapa, Terreiros do Brincar e Território do Brincar!
Abraços!
Gostaria de utilizar os filmes do Território Brincar para desencadear uma reflexão nos encontros de formação de educadores das escolas as quais coordeno o projeto pedagógico.
já utilizei dos “diálogos do território Brincar” como referências para articular as práticas das educadoras.
estamos pensando no Protagonismo na Educação Infantil, observando as possibilidades dos nossos espaços, das ações das crianças, do tempo da criança ao brincar e dos nossos encaminhamentos nos grupos.