mar-2014
Agosto é mês dos ventos
Agosto é mês dos ventos e ventos pedem bicudas e arraias no céu. Acupe está atualmente forrada de meninos no porto, na praça, nas ruas e nos quintais com olhos voltados para o céu e mãos ágeis feito maestros que regem suas orquestras.
As bicudas são feitas com folhas de caderno ou de livros didáticos antigos, levando ao ar velhos conceitos e conteúdos escolares. Não vai cola nem vareta e sua leveza ganha potência na habilidade dos dedos infantis.
As arraias são feitas com talas das folhas de coqueiro ou do dendê e papel de seda coladas nas varetas, formando um retângulo de aproximadamente 10cm de largura por 30cm de comprimento. Saber montar uma arraia é até simples, o mais difícil é conseguir fazer a “chave” – amarração para conectar a linha e a rabada.
As rabadas (como são chamadas as rabiolas) são feitas de fios retirados de sacos de sisal, um trabalho de paciência e persistência.
As varetas, o papel, a cola e a rabada de um jeito ou de outro são encontradas pelos meninos, mas a linha … ah, a linha. A linha tem que ser comprada, é difícil arranjar. A linha tem que ter muito, guardar bem e não perder para um adversário.
E adversários não faltam nessa batalha acirrada. Quem pega leva pra si não só a arraia do outro, mas a linha do outro também. Assim, usar cerol, ou temperar a linha como eles dizem, é fundamental para dar um sabor ao jogo.
Arquitetado todo esse rol de necessidades lá ficam os meninos, e digo meninos mesmo, armados de seus brinquedos, em batalhas tão antigas quanto atuais.
Independentemente da idade o que vale no brincar é estar presente de fato.
Quem está sem arraia fica de olho para conseguir pegar alguma que seja cortada. Não conseguindo, vale até convencer um colega, com um biscoito, para que ele deixe dar uma jogadinha.
Texto e fotos: Renata Meirelles
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