abr-2016
Videoconferência #2: Criança e natureza
Texto: Carolina Prestes | Fotos: Renata Franco | Vídeo: Interrogação Filmes
No último dia 31 de março de 2016 ocorreu o segundo encontro da série ‘Diálogos do Brincar’. Correalizada pelo Projeto Território do Brincar e pelo Instituto Alana, a iniciativa tem periodicidade mensal e busca travar discussões sobre temas que tocam a infância, a educação e o brincar.
A segunda videoconferência do ano foi transmitida ao vivo, com um público online de aproximadamente 600 pessoas, de diversos estados brasileiros, como Acre, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraíba e São Paulo, além da Capital Federal.
O tema ‘Criança e Natureza’ foi debatido por Gandhy Pioski, artista plástico e pesquisador das práticas da criança há mais de 20 anos.
No bate-papo, mediado por Ana Claudia Leite, diretora de Educação do Instituto Alana, Gandhy ressaltou que pensar a relação criança e natureza ainda é um desafio para a educação e alertou para a necessidade de invertermos nosso entendimento sobre o que é a natureza, ressaltando que ela não é apenas física – mar, céu, pedra ou árvore – mas algo maior, que tem a ver com a interioridade e a força criadora do homem.
“Conhecemos a natureza por um olhar científico, mas a ciência não dá todas as respostas necessárias para o campo da ética, da saúde psíquica ou para o campo simbólico”, afirmou o pesquisador, complementando que é exatamente este campo simbólico – da imaginação e do sonho – que faz o vínculo entre a criança e a natureza.
“Quando a imaginação da criança encontra a natureza, ela se potencializa e se torna imaginação criadora! A natureza tem a força necessária para despertar um campo simbólico criador na criança”.
O pesquisador também atentou para a estrutura que vemos nos grandes centros urbanos: “Se somos natureza, por que a natureza está além dos muros da cidade? Imprimimos um racionalismo extremo em nossas cidades e nos distanciamos de nossa própria internalidade”.
Durante sua fala, Gandhy alertou para a necessidade de criarmos obras e ambientes capazes de nos aproximar da natureza: “O que de materialidade podemos criar em nossos ambientes de vida que se aproxime do universo natural?”.
Criança, natureza e educação
Questionado por um dos internautas sobre como garantir o acesso à natureza em escolas, o especialista foi certeiro: “Se conhecermos a linguagem fundamental que une crianças à natureza, podemos construir lugares de solidão para elas. Casinhas feitas de folha, com pedacinhos de madeira ou cantinhos escuros. Isso já traz a elementaridade do reino natural para as escolas e creches”.
Também foi destacada a importância de dar espaço a outras linguagens e saberes, que não aqueles institucionalizados pelos currículos e programas: ”Precisamos aproximar as crianças dos saberes humanos mais primordiais e mais simples”, disse o pesquisador, destacando que o trabalho do pintor, do eletricista, do marceneiro e da cozinheira carregam uma rica pedagogia, capaz de despertar na criança valores importantes e levá-la a um profundo mergulho na obra humana: “O marceneiro, no trabalho dele, é uma pedagogia. Ele é a natureza, ao acordar campos de interioridade e percepção da criança”.
Entre outros pontos, Gandhy ressaltou que qualquer pessoa que se proponha a fazer um trabalho com crianças precisa conhecer o reino natural, experimentá-lo em si, no campo de sua interioridade. Só assim será possível mudar as concepções – já tão engessadas – que temos sobre a natureza.
Se você não conseguiu assistir o bate-papo ao vivo, confira agora! E programe-se para o próximo, dia 28/04, sobre o tema ‘A voz da Criança’, com Adriana Friedmann, antropóloga, educadora e conselheira do Projeto Território do Brincar.
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