mar-2017
DIÁLOGOS DO BRINCAR #10: CIDADES, CRIANÇA E NATUREZA
Texto: Natalia Cruz e Carolina Prestes | Fotos: Natalia Cruz | Vídeo: Interrogação Filmes
Em busca de abrir novas conversas sobre o brincar, a infância e a educação, a série “Diálogos do Brincar”, correalizada pelo Projeto Território do Brincar e pelo Instituto Alana, voltou ao ar no último dia 9 de março de 2017. Neste ano, serão 6 videoconferências, que acontecerão bimestralmente, entre março e novembro.
No dia 9 de março ocorreu a primeira videoconferência do ano, com Lais Fleury, diretora do Projeto Criança e Natureza. No bate-papo “Cidades, Criança e Natureza’, mediado por Renata Meirelles, diretora do Projeto Território do Brincar, Lais falou sobre como a vida moderna nos induz a uma rotina sedentária e emparedada, fazendo com que ocupemos boa parte de nosso tempo livre em frente à telas. “O estilo de vida que levamos faz com que o contato com a natureza não seja natural, é necessário um esforço”, afirmou Lais.
Para ela, a ausência espaços ao ar livre tem impactos bastante expressivos para a infância; tanto mentais, quanto físicos: “Não falamos mais desse brincar na natureza como algo intuitivo, hoje em dia temos pesquisas que provam que o contato com a natureza influencia no desenvolvimento integral da criança (físico, emocional, social, psicologia, cognitivo)”.
Lais defende que a natureza oferece estímulos que falam diretamente com a alma da criança: “A forma como ela se conecta com o espaço ao ar livre é através do corpo. Só o fato de estar em um espaço aberto já faz com que a criança queira correr, brincar, pular, subir nas árvores. Ambientes vivos dialogam com todos os sentidos da criança. É muito difícil replicar em espaços internos as sensações oferecidas pelos espaços da natureza”.
A importância de correr riscos também foi debatida pela palestrante convidada. “Quando falamos sobre riscos, falamos sobre o desenvolvimento emocional da criança. Ela vai criando repertório para se preparar para a vida”.
Como garantir que as crianças que vivem em áreas urbanas tenham acesso à natureza?
Para muitos, a tarefa é quase impossível, mas Lais afirma não ser: “No nosso imaginário, a natureza se traduz em espaços verdes, mas na verdade deve ser compreendida como espaços ao ar livre. É preciso perceber que na cidade existe sim natureza. Tomar banho de chuva já é uma experiência de encantamento. A natureza na cidade está em todo lugar”, explica.
Mas, para que essas experiências com a natureza sejam plenas, o ócio é fundamental (e também um grande vilão das rotinas urbanas, sempre tão aceleradas). Lais afirma que o tempo livre – ocioso – permite que a criança se vincule e interaja com os ambientes naturais de forma imaginativa.
Para ela, essa é uma mudança de cultura, e, por isso, deve envolver a comunidade como um todo:“É necessário sensibilizar educadores, para que eles estabeleçam a sua própria conexão com a natureza, passando a compreender o valor dessa conexão.. Se as crianças passam tanto tempo na escola, é fundamental que ela seja um espaço para a promoção do contato com a natureza, oferecendo vivências em espaços externos, que não devem ser paisagísticos, mas espaços de exploração.”
A natureza como espaço restaurativo
Lais ainda apontou o aspecto restaurativo da natureza: “Ela nos oferece esse sentido da beleza, da contemplação. É só pensarmos na nossa vida cotidiana; quando estamos cansados, queremos ficar perto da natureza, nós nos reabastecemos na natureza”. Além disso, espaços naturais estimulam a escuta interna da criança, que tem possibilidade de criar e recriar seus próprios brinquedos “Os elementos naturais tem diálogo direto com a alma humana. Um pedaço de pau, por exemplo,uma hora é um lápis, depois uma espada. Os elementos da natureza conseguem materializar esse desejo da criança.”
Sentir diferentes cheiros e texturas, investigar, descobrir a variedade de relevos, fazem da natureza um campo exploratório rico, num brincar “onde o foco não é o limite, mas a possibilidade”.
Se você não conseguiu assistir o bate-papo ao vivo, confira agora!
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