Esse movimento passa pelas telas de cinema com dois documentários. O primeiro é Tarja Branca, do diretor Cacau Rhoden, que gira em torno do brincar e propõe algumas discussões inovadoras. O filme propõem uma volta à infância para os entrevistados, através de memórias e imagens, mostrando como esse tempo fértil ajudou a formar o adulto de hoje. Além das brincadeiras tradicionais, o documentário mostra que a diversão também pode estar nos livros, como o caso do escritor e cronista José Simão, que conta como sua aventura infantil girava em torno das histórias que lia.
O filme ainda mostra possibilidades de continuação do brincar na vida adulta, quando a profissão é exercida com liberdade e criação e torna-se um brincar “sério”. Em outro momento do filme é mostrado os brincantes da cultura popular da região norte do país, com suas festas regionais, que também são um dos espaços para continuar brincando depois de grande.
Outro documentário que caminha numa discussão paralela é o Sementes do Nosso Quintal, da diretora Fernanda Heinz, que mostra o cotidiano da escola Te-Arte, em SP. Fernanda traz a discussão do brincar para dentro da educação infantil e abre nossos olhos para outras possibilidades de modelos de ensino, principalmente na infância.
Um outro projeto que vem fazendo um documento visual riquíssimo do brincar em todo o território brasileiro, é o Território do Brincar, produzido pela educadora Renata Meirelles e o documentarista David Reeks. Apoiado também pelo Instituto Alana, o projeto quer registrar e resgatar como nossas crianças brincam em cada região do país. Já foram de Norte a Sul do país, sempre mostrando as crianças em seus “esconderijos” ou cantinhos onde brincam livres. O mais legal desse projeto é que ele mostra a diversidade do brincar que na verdade acompanha a diversidade da própria cultura brasileira, sendo influenciada pela economia, clima e imigração que cada local recebeu.
Acompanhando esse processo temos os locais que abrem espaço físico e oferecem estrutura para que os pais que moram nas grandes cidades possam brincar com seus filhos. Um dos exemplos é a Casa do Brincar, em SP e a Casa Labirinto, em Curitiba, nossa parceira e que recebe atividades brincantes da Mãezíssima, nos sábados.
Esse movimento pelo brincar mostra uma preocupação da sociedade em encontrar equilíbrio entre as atividades dirigidas e extra-curriculares, com o tempo livre para soltar a imaginação e o corpo. Como o pêndulo que rege as correntes de pensamento, acredito que fomos ao limite de direcionar as crianças para coisas “sérias” a maior parte do tempo. Já foi possível observar as consequências que geram, como ansiedade infantil, doenças psicossomáticas em crianças e depressão. O outro extremo também tem suas desvantagens, não acredito que negar toda a tecnologia que criamos e o conhecimento acumulado por gerações seja o mais correto.
Novamente o ponto de equilíbrio entre essas linhas é o ideal, e claro, o mais difícil de ser encontrado. Ao meu ver a resposta está mais uma vez na escola, mais precisamente na educação infantil. E a responsabilidade de mudança está em nós, pais e cuidadores, em auxiliar e provocar as escolas para olharem para o brincar e para o educar como ações inseparáveis para a formação do adulto equilibrado.
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