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24
maio-2015

Cinéfilo Mitã – Território do Brincar

A matéria pode ser lista no site da REVISTA TIPITI MITÃ ou a seguir:

                    Por Ana Lucia Gondim Bastos

IMG_2186 Entre a realidade externa e a realidade interna existe o espaço da brincadeira. Um espaço onde é possível criar um mundo encantado, sem tirar os pés do chão. Espaço no qual o presente do agora pode ser conjugado num passado imperfeito, onde, como na poesia de Chico Buarque, “agora eu era o herói e meu cavalo só falava inglês e a noiva do cowboy era você além das outras três”, mas também onde posso ser bedel, juiz ou rei. Nesse espaço podemos estar sozinhos ou acompanhados, aliás, como outros espaços, é muito bom de se compartilhar. Juntamente com a consciência de que estamos num mundo de relações complexas, submetidos à nossa frágil condição de vulneráveis mortais, desenvolvemos, a capacidade de simbolizar, de brincar, de jogar e rir até a barriga doer. Ganhamos, assim, passagem livre para o Território do Brincar, aquele que faz da vida uma divertida aventura! A brincadeira não é exclusividade da infância. Mas, é lá na infância – quando vivemos intensamente um cotidiano repleto de grandes descobertas – que passamos a construir e delimitar tal território. É através dele que damos conta de tanta novidade que o mundo nos oferece.

Conheci Renata Meirelles em 1999 e ela já tinha escolhido manter um território do brincar à maneira das crianças, na sua vida de adulta. Na época ela trabalhava numa instituição de educação não formal chamada Colmeia (http://www.colmeia.org.br/) e convidava educadores a resgatar tal território em suas vidas e a dialogar com outros desses territórios, que outras pessoas criaram, mundo afora. Naquela época, ela planejava uma viagem à Amazônia, depois da qual nunca mais a encontrei. Passados todos esses anos, reencontro Renata às vésperas do lançamento do documentário, que dirigiu em parceria com o marido, David Reeks. “Território do Brincar”, me contou a diretora, é um documentário parte de um projeto mais amplo de pesquisa e difusão, um projeto que visa conhecer as crianças e suas brincadeiras, a partir delas mesmas, indo a campo e buscando, nos lugares onde vivem, conhecer como habitam o território do brincar (https://territoriodobrincar.com.br/o-projeto/). O documentário é reconhecido, pela dupla de diretores, como uma forma privilegiada de apresentar o material que foram recolhendo pelo Brasil, mas também o fazem através de formações de educadores, livros e outras atividades de difusão. O projeto é o segundo do casal, que já havia viajado pela Amazônia no Projeto BIRA (Brincadeiras infantis da Região Amazônica), em 2000. Já mais experientes no trabalho “de pé na estrada”, tiveram uma particular motivação para idealizar e desenvolver o “Território do Brincar”: tinham dois filhos (2 e 4 anos) e se questionavam acerca das possibilidades que a vida na cidade grande poderia oferecer para os territórios do brincar, da família inteira. Decidiram, então, passar dois anos à procura de brincadeiras e o resultado foi mágico! Diz Renata que ao chegar às comunidades com as duas crianças, onde quer que fosse, percebia uma imediata disponibilidade, de todos, para trocas de informações e experiências. Principalmente por parte das crianças do local, que logo convidavam os visitantes a brincar, já que essa é a primeira forma de manter contato interpessoal, na infância. E foi assim que Renata e David fizeram uma integração entre as várias esferas do cotidiano, bem incomum nos dias de hoje. Lazer, trabalho, brincadeira e responsabilidade, tudo junto e misturado e com os filhos sempre bem perto. A tarefa de apresentar o mundo aos filhos fundida à tarefa de transformar esse mundo, assim como a tarefa de trabalhar para manter a família fundida às tarefas de cuidados domésticos, sempre com todo mundo se responsabilizando por tudo e compartilhando tudo. Hoje, de volta a São Paulo, escolheram morar no interior, numa casa com quintal. As crianças foram para escola e o casal cuida da edição e divulgação do documentário, assim como das outras tantas atividades decorrentes do projeto. Mas, mantêm a proposta iniciada em 2012, de respeito com o modelo de vida que escolheram, prestando atenção para que nunca escapem por muito tempo do território do brincar ou que o deixem escapar de dentro deles. História bonita de se acompanhar e um resultado de trabalho primoroso.IMG_2450

CIRANDA DE FILMES

A estreia do documentário aconteceu dia 21 de maio, dando início à Ciranda de filmes, definida por seus organizadores como “um espaço de encontro, troca e inspiração para educadores, agentes culturais e sociais, pesquisadores, cineastas, produtores culturais, pais, mediadores e todos dedicados à infância. Espaço onde adultos se encontram para conversar e refletir sobre os processos educativos dedicados às crianças. A 2ª edição da Mostra, que aconteceu de 21 a 24 de maio, oferece uma cuidadosa seleção de 51 filmes nacionais e estrangeiros, além de rodas de conversa, vivências lúdicas e oficinas com pensadores, artistas e cineastas, que irão nos inspirar e ajudar na reflexão e aprendizado sobre os temas escolhidos. Toda programação desse ano tem como fio condutor três temas: famílias, relação criança e natureza e protagonismo infantil” (http://cirandadefilmes.com.br).

Com a palavra as curadoras, Fernanda Heinz Figueiredo e Patrícia Durães:

“Merecem ser destacados a premiada produção argentina Ciências Naturais (Ciencias Naturales), o impactante Indomável Sonhadora (Beasts of The Southern Wild), o sensível e belo drama turco Em Direção à Minha Voz (Were Dengê Min), e os documentários inéditos no Brasil Projeto Natureza (Project Wild Thing), Voltar a Brincar (Play Again), Do Lado de Fora: Lições de um Jardim da Infância na Floresta (School`s Out: Lessons from a Forest Kindergarten), Filhos da Mãe Natureza (Mother Nature´s Child) e A Criança na Natureza (The Child in Nature), dirigido por Miranda Andersen, aos 13 anos.

A Ciranda de Filmes também traz ao Brasil os documentários Crescer (Grandir), do Equador e os americanos As Crianças Crescem (The Kids Grow Up), e Abril (April), que tratam do tema “famílias”. Assim como as preciosidades da animação A Panelinha de Anatole (La Petite Casserole D`Anatole), Feral, de origem portuguesa e vencedor do Oscar, e o russo Minha Mãe é um Avião (Moia mama – samolet).

Já entre os que merecem destaque por seus diretores renomados, estão o clássico Na Idade da Inocência (L’Argent de Poche) de François Truffaut, O que Eu Mais Desejo(Kiseki), de Hirokazu Koreeda, e a animação Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro) de Hayao Miyazaki, outro grande mestre do cinema japonês.

Tratando do protagonismo infantil, exibiremos o curta Em Nome das Crianças do Bairro Pijp (Namens de kinderen van de Pijp), uma reportagem que trata de uma experiência revolucionária de crianças reivindicando as ruas de um bairro de Amsterdam como lugar de brincar, e A Escola da Senhorita Olga (La Escuela de Señorita Olga), de Mario Piazza, que retrata uma das experiências educativas mais interessantes da Argentina, conduzida entre 1935 e 1950 pela mestra Olga Cossettini.

Este ano a Ciranda de Filmes irá homenagear alguns de nossos mestres brasileiros falecidos em 2014, que nos deixam saudades, além de um legado riquíssimo de cultura, identidade e sensibilidade. O poeta mineiro Manoel de Barros no documentário Só Dez por Cento é Mentira de Pedro Cezar; o pedagogo, filósofo, escritor, psicanalista e teólogo, Rubem Alves, em Rubem Alves – O Professor de Espantos, de Dulce Queiroz; e o escritor Ariano  Suassuna em O Sertãomundo de Suassuna, dirigido por Douglas Machado.”(texto retirado do site da mostra)

Aguardem, nas próximas edições de Tipiti Mitã, comentários dos filmes selecionados para a ciranda!

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